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O dilema das telas



Quem tem mais de 40 anos certamente se lembra de como era o mundo sem a internet e todos os eletrônicos que a ela estão vinculados atualmente, sobretudo os celulares. Para muitos, a discussão sobre os excessos relacionados às tecnologias digitais pode parecer algo novo. Mas não é tanto assim. Perto da segunda metade do século passado, com o aumento progressivo da produção e venda de aparelhos de televisão e, com ela, de novos canais e programações, surgiu juntamente a preocupação sobre o impacto dessa tecnologia nas famílias e na sociedade de modo geral.


Algumas das críticas mais enfáticas giravam em torno da desagregação familiar causada pela televisão, inaugurando uma nova ritualística na qual as refeições ou mesmo a reunião familiar, passaram a girar em torno da programação. Outra crítica contundente se dirigia a substituição dos pais na criação e educação dos filhos, tanto como produtora de conteúdo quanto promotora de distração para as crianças. Nasce, assim, o conceito de “chupeta eletrônica” ou “babá eletrônica”. E como não lembrar dos desenhos de antigamente cheios de explosões, uso de armas de fogo, de bebidas alcóolicas, situações violentas, trapaças ou dos programas infantis que flertavam com uma certa sensualidade das apresentadoras para captar, por tabela, um pouco da fantasia adulta?


Por falar em moralidade, a televisão também ganhou a fama de tendenciosa, manipuladora pelo grande alcance de sua programação jornalística, mas também de perverter os costumes por meio das suas novelas, filmes, programas cujos conteúdos fossem um tanto mais explícitos em áreas mais sensíveis à opinião pública, como a sexualidade e a violência.


Com a chegada dos videogames, que precisava estar vinculado a uma televisão, adicionou-se uma nova camada, agora a da preocupação com o tempo de exposição das crianças e jovens à tela e, claro, ao conteúdo de certos jogos. Isso em um tempo no qual os gráficos e a interatividade estavam ainda bem distantes das definições ultrarrealistas dos dias atuais.


E desembarcamos no mundo smart. Assim como no passado, requentamos as preocupações daquele tempo, mudando apenas de suporte e de tecnologia. Apesar das semelhanças das críticas, há um ingrediente novo trazido pelas novas tecnologias: A individualização.

Os televisores não eram baratos e só muito tempo depois as famílias começaram a ter mais de um aparelho em suas casas. Via de regra, a televisão ocupava o seu lugar solene na sala da família, migrando aos poucos para os quartos. A programação também muito lentamente foi se adequando a essa individualização, mas nada comparado ao mundo smart.


Nesse mundo cada individuo tem a possibilidade de personalizar a sua relação com os conteúdos e as máquinas. Isso significa uma experiência imersiva que, no caso dos celulares por exemplo, não precisa estar vinculada a um espaço físico. E isso trouxe implicações sociais disruptivas. Passamos a ter uma existência digital pela qual transferimos partes significativas da nossa personalidade, dos relacionamentos (surge a figura do “amigo virtual”) e até mesmo das nossas formas de pensar, agir e sentir. E, claro, tudo isso produziu efeitos bons e ruins a depender do ponto de vista.  Assunto para o nosso próximo artigo.

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