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Qualquer um é terapeuta? Qualquer coisa é terapia?



Se no ditado popular “de médico e louco todo mundo tem um pouco”, podemos acrescentar também um bocadinho de psicanalista. É natural que quando os saberes constituídos tocam o território do senso comum haja apropriações e mais natural ainda que assumam sentidos diferentes daqueles que originalmente possuem.


Podemos começar com a própria natureza do terapeuta e isso nos leva ao ofício da escuta. Certamente saber escutar o outro é uma qualidade que não é exclusiva dos analistas das diferentes formações. Há pessoas que desenvolvem essa habilidade espontaneamente e se tornam até boas conselheiras. Outros, fazem disso uma ocupação informal, ou seja, se disponibilizam ao contrato para ouvir e, especialmente, falar como o outro deve ou não pensar, agir ou sentir, mas a despeito de qualquer formação. Caso você esteja procurando apenas uma orelha, um ombro e uma opinião, talvez esse “analista informal” baste. Mas quando o assunto é saúde mental, a coisa muda de figura. E oferecer nossa psiquê para esse laboratório informal pode piorar sensivelmente a situação.


O senso comum é o “saber do viver” e como tal tem seu inestimável valor. O que destacamos aqui é o cuidado nas apropriações e ressignificações feitas por esse saber e que fazem qualquer uma se sentir um “especialista”. Me lembra aquela velha máxima de que no Brasil todos são técnicos de futebol, entre outras habilidades especiais. O problema é quando essas apropriações se tornam um rótulo para o outro e para nós mesmos. Vejamos.


Quando uma pessoa se mostra um pouco mais nervosa, com a manifestação das emoções descontroladas, dizia-se que está histérica. Certamente quem o fala não sabe que uma neurose de conversão psicossomática pode não ter absolutamente nada a ver com essa história. O mesmo acontece quando achamos que tudo o que acontece de desagradável ou limitante traumatiza.


Quando desdenham das nossas qualidades, posses ou condições, dizemos que essas pessoas são recalcadas. Alguma relação direta com a economia psíquica que lida com a força libidinal não realizada?  A lista pode acabar ficando grande demais. Usamos largamente termos como mania, paranoia, esquizofrenia, psicopatia em analogias nada convencionais.


Isso sem falar na tendência contemporânea a necessidade de se encontrar algum transtorno de natureza psíquica ao menor sinal surgido das listas de sintomas e comportamentos dadas pelos influenciadores digitais e reforçadas na implacável busca pelo engajamento e likes, mostrando o quanto é fácil se autodiagnosticar, e como é simples se transformar no próprio transtorno, como se fosse um mundo a parte. Pode-se alegar que isso ajuda a aceitação e naturalização. Até certo ponto pode ser. Além do ponto se transforma em algo bem diferente.


Portanto, a sua saúde mental, emocional e física é preciosa demais para não merecer um investimento sério, um profissional bem preparado e uma dedicação diligente do autocuidado.

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